Nicholas Winton




Será que todos nós estamos preparados para fazer o bem sem esperar por reconhecimento ou recompensa?
Nicholas Winton estava. Esse britânico nascido em 19 de maio de 1909 ajudou a salvar 669 crianças da antiga Checoslováquia, na época do nazismo. Apesar dessa ação de bondade, ele nunca viu essa ação dele como extraordinária, fez o que tinha de ser feito e preferiu guardar segredo – nem sua mulher sabia.

Mudando o rumo de muitas vidas


No ano de 1938, Nicholas teve seu plano de férias de fim de ano com seu amigo, Martin Blake, cancelado. Este mesmo amigo sugeriu uma outra opção: que eles viajassem até a Checoslováquia, pois queria lhe mostrar algo. Winton se interessou pela proposta do amigo e partiram para lá.

Ao pisar na Checoslováquia, Winton sentiu o clima de horror e medo, compreendeu o que o amigo tanto lhe queria mostrar. O país estava sob o domínio da Alemanha nazista. Milhares de pessoas assustadas e perseguidas com um futuro nada promissor, podendo a qualquer momento ser mandadas para campos de extermínio.
Muitos sentiriam pena, achariam essa situação injusta, ficariam indignados, entretanto, apenas observariam a tragédia acontecer. Nicholas Winton, não. Sabia que poderia fazer algo por essa pessoas. Teve a ideia de mandar as crianças das famílias perseguidas para outros países. Apenas uma ideia, porém, não resolveria a situação. Winton precisaria ter muita disposição e colocar a mão na massa para realizar esse objetivo.
Nicholas pesquisou e coletou dados das crianças que precisavam de ajuda e escreveu cartas para vários países. Foi um trabalho árduo e burocrático, mas nada o fazia desanimar. Persistente, atendeu as exigências impostas pelas autoridades. As portas do mundo sempre se abrem para um guerreiro que não se intimida com os obstáculos. Com a ajuda de organizações cristãs e beneficentes, foi possível conseguir recursos para o transporte dos pequenos refugiados e arrumar famílias interessadas em adotá-los.
Nos primeiros 9 meses de 1939, Winton planejou o transporte e o resgate de 669 crianças – judias, em sua maioria – da Checoslováquia para Inglaterra.
“Tive a ideia certa de resgatar as crianças quando todo mundo achava que nem valeria a pena tentar’”
O número de pessoas salvas poderia ser maior, pois um grupo de aproximadamente 250 crianças não pode seguir para Inglaterra devido ao bloqueio de todos os meios de transportes com o início da guerra. Essas crianças que não conseguiram embarcar infelizmente foram mortas em campos de extermínio.
“Sempre penso nelas, porque poucas horas fizeram a diferença entre iniciar uma vida nova ou ser morta. Não se ouviu falar daquelas crianças.”
Muitas dessas crianças salvas por Winton se tornaram pessoas generosas, oferecendo suas habilidades para o mundo e com as mais diversas profissões: professores, escritoras, enfermeiros, jornalistas, cineastas, biólogos…

Herói discreto

Winton preferiu não contar pros outros sobre o que tinha feito. As crianças cresceram sem notícias de quem havia contribuído para o bem delas.
Muitos o consideravam um herói, mas ele não:
“Não me vejo como um herói. Para ser herói, alguém precisa fazer algo de perigoso. Não fiz. O que fiz foi algo que os outros achavam impossível. Mas eu tinha de tentar, para ver se era possível ou não.
“Não é um ato heróico. Meu lema é: se algo não é obviamente impossível, então deve haver uma maneira de fazer.”
A mulher de Nicholas só descobriu quando foi arrumar o sótão da casa e encontrou um álbum velho com fotos de crianças, telegramas, cartas e uma lista. A história de Winton ficou guardada em segredo por quase meio século.

“Alguém aqui nessa sala deve sua vida a Nicholas Winton?”

Depois da história de Winton ficar conhecida, ele recebeu diversas homenagens:
  • Foi agraciado com a Ordem de Tomáš Garrigue Masaryk, Quarta Classe, pelo Presidente Checo em 1998.
  • No Aniversário da Rainha de 1983, ele foi nomeado como um Membro da Ordem do Império Britânico pelo seu trabalho na instalação na Grã-Bretanha de asilos da sociedade Abbeyfield e em 2002 foi nomeado cavaleiro pela rainha Elizabeth II em reconhecimento ao seu trabalho salvando crianças.
  • O asteróide 19384_Winton foi nomeado em sua honra pelo casal de astrônomos checos Jana Tichá and Miloš Tichý.
  • Vera Gissing, uma das crianças salvas na época escreveu a biografia de Winton, em agradecimento ao seu ato de coragem.
  • Em 2008, Nicholas Winton foi homenageado pelo governo checo de várias formas. Uma escola de ensino elementar em Kunžak recebeu seu nome e ele foi agraciado com a Cruz do Mérito do Ministério da Defesa, Grau I. Também foi indicado pelo governo checo para o Prêmio Nobel da Paz de 2008.
Entretanto, a homenagem mais emocionante que ele recebeu veio daqueles que Nicholas um dia salvou da morte. Um programa de TV inglês resolveu fazer uma surpresa para Winton e convidou várias pessoas que foram salvas por ele quando eram crianças, mas nunca o tinham conhecido. Winton foi convidado para o programa, mas não sabia da surpresa: lhe informaram que ele apenas assistiria um show.
No decorrer do programa, a apresentadora Esther Rantzen anunciou que sentadas ao seu lado estavam duas pessoas salvas por ele em 1939. A apresentadora também pediu para que as outras pessoas que estavam no auditório e que também foram salvas por Winton se levantassem.
Olha o resultado:

Link YouTube | Um dos vídeos mais emocionantes da história humana.

Fazer o bem

As últimas notícias de Nicholas Winton informam que ele está vivo e são. Mora em Maidenhead, Inglaterra, com sua esposa. É casado desde 1948 e tem dois filhos.
Perguntaram para Winton se ele achava que tinha feito do mundo um local melhor:
“É preciso mais do que um Nicholas Winton para fazer do mundo um lugar melhor. Mas tudo é uma questão é uma visão. Quase todas as crianças que salvei estão envolvidas hoje em trabalhos de caridade. Estão fazendo o bem.
O importante não é chegar em casa de noite e dizer, passivamente: ‘Hoje, eu não fiz nada de mal’. O importante é chegar em casa e dizer: ‘Hoje eu fiz o bem’.”

Irena Sendler

Sendler foi considerada como uma das grandes heroínas da resistência polaca ao nazismo, tendo estado nomeada para o Prémio Nobel da Paz.
A filha de Irena Sendler, Janina Zgrzembska, anunciou hoje (12/05/2008) que a sua mãe morreu num hospital de Varsóvia.
Sendler organizou a saída de cerca de 2500 crianças do Gueto de Varsóvia durante a violenta ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial. Ela - que trabalhava como assistente social - e a sua equipa de 20 colaboradores salvaram as crianças entre Outubro de 1940 e Abril de 1943, quando os nazis deitaram fogo ao Gueto, matando os seus ocupantes ou mandando-os para os campos de concentração.
Durante dois anos e meio, Irena Sendler conseguiu ludibriar os nazis e fazer sair do Gueto adolescentes, crianças e bebés - muitos deles disfarçados sob a forma de pacotes - e enviá-los para o seio de famílias católicas, para orfanatos, conventos ou fábricas.
Em Varsóvia viviam 400 mil dos 3,5 milhões de judeus que habitavam a Polónia.
"Fui educada na ideia de que é preciso salvar qualquer pessoa [que se afoga], sem ter em conta a sua religião ou notoriedade", dizia Irena Sendler.
Nascida a 15 de Fevereiro de 1910, a figura de Irena Sendler permaneceu relativamente desconhecida na Polónia, à imagem de Oskar Schindler, que morreu na pobreza, mas que viria a ser imortalizado no cinema pelo realizador Steven Spielberg na película "A Lista de Schindler".
Só em Março de 2007 a polaca foi homenageada de forma solene no seu país, tendo o seu nome sido proposto para o Prémio Nobel da Paz. Em 1965, porém, o memorial israelita Yad Vashem tinha já atribuído a Sendler o título de "Justo Entre as Nações", reservado aos não-judeus que salvaram judeus.

(1839 - 1914)
Abolicionista brasileiro e jangadeiro de profissão nascido em Canoa Quebrada, Aracati, Estado do Ceará, considerado o maior herói popular pela da libertação dos escravos no Ceará. Descendente miscigenado de escravos, era filho do pescador Manoel do Nascimento e aos 8 anos de idade ficou órfão do pai, que faleceu nos seringais amazônicos. Criado pela mãe, a rendeira Matilde Maria da Conceição, em meio a muitas dificuldades, ficou conhecido como Chico da Matilde e desde criança tornou-se envolvido no cotidiano do litoral. Cresceu analfabeto e só aos vinte anos aprendeu a ler. Pescador, tornou-se chefe dos catraieiros, assim chamados os condutores de jangadas e botes do litoral da capital cearense e trabalhou nas obras do porto de Fortaleza (1859). Depois empregou-se como marinheiro em um navio que fazia a linha Maranhão-Ceará e, alguns anos mais tarde, foi nomeado prático da Capitania dos Portos (1874). O Ceará vivia anos de intensa seca (1877-1879) o que desorganizou a produção do estado e matou de fome, de varíola e de cólera mais de um quarto da população. Os fazendeiros não podendo manter seus escravos, os vendia para outros fazendeiros, principalmente do sudeste do país. Convivendo com esse drama do tráfico de escravos e sendo mulato, liderou os jangadeiros para não embarcarem ou desembarcarem mais negros escravizados no litoral cearense. Fechando do Porto de Fortaleza ao tráfico de escravos para as outras províncias, os donos de escravos eram forçados a libertá-los na impossibilidade de sustentá-los. Assim se envolveu na luta pelo abolicionismo e foi exonerado do cargo (1881), por ter liderado este movimento praieiro contra o desembarque dos escravos em terras cearenses. Não desanimando, jurou (1882) que não haveria força bruta no mundo que fizesse o tráfico negreiro ser reaberto no Ceará. Sua bravura no bloqueio do porto de Fortaleza, impedindo o embarque de escravos, rendeu-lhe o novo cognome de O Dragão do Mar. Em conseqüência, não havendo quem transportasse os escravos do porto até os navios negreiros, transporte este feito pelos jangadeiros, o Estado do Ceará decretou, pioneiramente no Brasil, a libertação de seus escravos (1884), quatro anos antes do dia 13 de maio da abolição brasileira. Este fato valeu ao estado o nome de Terra da Luz, dado por José do Patrocínio, e fez aumentar os ânimos de todos os abolicionistas do Brasil e mereceu inclusive as saudações aos cearenses do grande escritor francês, Victor Hugo. O herói jangadeiro foi até o Rio de Janeiro, levando no barco negreiro Espírito Santo, a jangada com a qual havia participado da "greve" e a embarcação foi doada ao Museu Nacional, que infelizmente desapareceu do acervo daquele museu. Por ordem do Imperador D. Pedro II foi reconduzido ao cargo de prático da Capitania dos Portos (1889) e no ano seguinte, no regime republicano, recebeu a patente de Major-Ajudante de Ordem do Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará (1890). Faleceu na capital cearense, poucas semanas antes de completar 75 anos e seu nome é hoje dado a um centro de cultura e a uma rádio de Fortaleza.

Chico Mendes

Biografia de Francisco Alves Mendes Filho “Chico Mendes”

44 anos antes de Chico Mendes nascer, no Acre, já existiam conflitos de terra. A área que hoje é o estado do Acre foi disputada num confronto armado entre Bolívia e Brasil, os seringueiros por fim, comandado por Plácido de castro, retiraram os 15 milhões de hectares das mãos dos bolivianos. O tratado de Petrópolis, de 1903 deu a posse definitiva do Acre ao Brasil. Os seringais tornaram rica a região do Acre. A riqueza da borracha atraiu muitos nordestinos á região. Um deles foi o avô de Chico Mendes. As famílias que se mudaram do Ceará para a Amazônia tiveram de se adaptar a um meio ambiente totalmente diferente. Úmida, escura e fechada a Amazônia era uma selva de insetos, doenças que se propagavam. Não havia escolas e nem hospitais. Embora o Brasil estivesse ganhando milhões de dólares com imposto sobre a extração da borracha, o governo não reaplicava um centavo na região da Amazônia. Todos os aspectos da vida representavam, então, um novo desafio. As Famílias ficaram dispersas pela floresta, muitas vezes separadas por quatro ou cinco horas de caminhada. Toda família caçava e colhia na floresta o que não podia plantar comprava dos caixeiros-viajantes.

Em 1944, nasce no seringal Porto Rico em Xapuri – Acre - Francisco “Chico” Alves Mendes Filho. Aos nove anos, Chico Mendes já acompanhava seu pai na floresta; Aos onze tornou-se seringueiro em tempo integral, nesta mesma época, a família mudou-se para a colocação Pote Seco no seringal Equador próximo à cachoeira, durante o dia Chico cortava seringa, caçava e a noite Chico lia alguns livros e se inteirava das noticias através de jornais quase sempre com atraso de semanas. Com doze anos Chico Mendes conheceu Euclides Fernandes Távora, aliado de Carlos Prestes. Euclides havia participado da intentona comunista em 1935, preso, conseguiu fugir e escondeu-se no meio da floresta Amazônica perto da colocação dos Mendes. Foi com Euclides Távora que Chico começou a entender o significado da exploração dos seringueiros, a luta de classes sempre com referencias a Lênin e Marx.

As aulas de Távora tiveram uma interrupção quando Chico estava com 17 anos e teve que trabalhar horas extras para sustentar sua família, pois sua mãe e irmão mais velho morreram. O aprendizado político de Chico com Távora foi retomado nos anos seguintes, Távora conseguiu um rádio, onde juntos Távora e Chico Mendes ouviam os noticiários em português da central de Moscou, BBC de Londres e Voz da América. Analisando os fatos e as noticias, Távora infundia em Chico a consciência da geopolítica e o lugar do Brasil no jogo de tração entre comunismo e capitalismo. Com Távora, Chico aprendeu não apenas a ler em jornais, mas também a pensar e recolher elementos para compreender o país e a condição dos seringueiros. E foi assim que teve inicio, embora isoladamente, um trabalho incessante de conseguir a autonomia dos seringueiros.

Com a chegada do movimento sindical ao Acre por volta de 1974, Chico encontrou um aliado forte para organizar as bases, difundir suas idéias e fortalecer o movimento. Chico Participou do primeiro curso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em 1975, sobre os direitos da terra e organização sindical, onde causou forte impressão, pois estava a um nível bem superior a outros trabalhadores, pois além de ler e escrever bem, conhecia os fundamentos da filosofia sindical.

A igreja católica teve importante papel na trajetória de Chico Mendes, foi militando nas comunidades eclesiais de base que Chico cultivou lideranças e um combativo senso de propósito entre os isolados habitantes da floresta.

A ocupação intensiva gerenciada pelo governo na Amazônia na década de setenta atingi também o Acre. Agricultores e pecuaristas oriundos do sul do país chegam ao Acre para explorar a terra, substituindo os seringais, derrubando a floresta para a implantação de fazendas de gado. Como conseqüência das derrubadas, 10 mil famílias de seringueiros sem trabalho acabaram por virar favelado nas periferias de Rio Branco, capital do Acre, ou na Bolívia.
Conforme crescia a especulação das terras no Acre no final dos anos setenta, os trabalhadores começaram a se organizar para a tarefa de impedir os cortes.
Chico Mendes agora passa a ser visto quase sempre nas estradas da floresta, recrutando os seringueiros a se sindicalizarem e participarem dos empates. Nos empates, os seringueiros, acompanhados de mulheres e crianças, colocavam-se entre as árvores e os tratores e motosserras para impedir a destruição das florestas do Acre.

No inicio Chico encontrou dificuldade em convencer as pessoas a se sindicalizarem, por que os fazendeiros espalharam rumores de que a operação possuía uma inspiração comunista; Mas as comunidades de base deram-lhe uma estrutura e ele acabou por encontrar pessoas conscientes de seus direitos básicos e da possibilidade de determinar seu próprio destino. Chico participou ativamente da implantação do Projeto seringueiro, onde consistia na construção de escolas nos seringais para alfabetizar os seringueiros e, utilizando uma metodologia inovadora, conscientizá-los dos seus direitos.

A convite de um comerciante da Cachoeira, Guilherme Zaire, Chico Mendes sai candidato a vereador em Xapuri pelo MDB, no ano de 1977; No começo, os líderes sindicais rejeitam a idéia, mas Chico acabou por convencê-los de que seria mais fácil criar o sindicato rural em Xapuri se ele fosse vereador. Chico foi eleito a vereador e, logo depois, foi fundado o novo sindicato dos trabalhadores rurais em xapuri.

Chico Mendes dedicava agora todo seu tempo na organização dos seringueiros para o 1º encontro nacional, a comunidade internacional enfim começava a se sensibilizar e se articular para exigir do governo brasileiro uma postura mais rígida com relação às queimadas e desmatamentos na Amazônia. O conflito entre os dois modelos de desenvolvimento, um baseado na pecuária extensiva e outro baseado no extrativismo dos recursos florestais parecia que caminhava para um desfecho de entendimento entre as partes. Chico Mendes era figura mais atuante no movimento sindical e ambientalista. Porém Chico acreditava que uma atuação político-partidária seria uma forma de fortalecer o movimento e garantir as melhorias para os seringueiros. Depois de uma passagem mal sucedida pelo MDB, Chico Mendes ingressa no Partido dos Trabalhadores, tornando-se um dos fundadores do partido no Acre. Amigo pessoal do até então deputado federal por São Paulo, Luis Inácio Lula da Silva, Chico conseguiu projeção na esquerda brasileira, fato que o credenciou a candidatar-se a deputado estadual no Acre pelo partido dos trabalhadores e mais tarde a prefeito de Xapuri pelo mesmo partido sendo derrotado nas duas oportunidades.

Todavia Chico Mendes não se sentiu derrotado; Ele não estava sozinho. Com seu discurso cativante e o respaldo de quem viverá os últimos 12 anos na mobilização e criação de sindicatos rurais e movimentos sindicais, Chico conseguiu aliados importantes no Acre e no Brasil. Uma dessas aliadas era Marina Silva então monitora das comunidades eclesiais de base da igreja católica. Era constante ver Chico e Marina pelos seringais do Acre, num esforço pelo fortalecimento das escolas rurais e do projeto seringueiro; Eles visitavam as escolas e falavam aos seringueiros da necessidade de resistir às investidas, cada vez mais constantes e violentas, dos pecuaristas na região. As conquistas alcançadas pelo movimento dos seringueiros tendo a frente Chico Mendes dominavam o cenário político-ambiental na Europa, nos Estados Unidos e no Sudeste brasileiro.

Em Outubro de 1985, Chico Mendes e outras lideranças, com o apoio da antropóloga Mary Allegretti organizaram o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, onde formularam a idéia das reservas extrativistas, como forma de resguardar os direitos dos seringueiros sobre a floresta.
A partir do encontro nacional, a luta de Chico Mendes pela preservação do modo de vida dos seringueiros e conservação da floresta amazônica, chamou a atenção do mundo. Tanto que em Julho de 1987 Chico Mendes recebe o prêmio global 500, concedido pela ONU às personalidades que mais se destacaram na defesa do meio ambiente. Além da medalha Sociedade para um mundo melhor e outros no Brasil e exterior.

Ao final dos anos 80, Xapuri cheirava a pólvora, os conflitos pela posse da terra entre seringueiros e pecuaristas chegavam então ao seu ápice, as ameaças a Chico Mendes já eram constantes e na noite do dia 22 de dezembro de 1988 sete dias após ter completado 44 anos, ao sair para tomar banho em sua humilde casa Chico é alvejado com um tiro no peito na presença de sua esposa Ilzamar e de seus filhos Elenira e Sandino. Seu sangue foi derramado na terra e floresce nos corações dos que ainda sonham com a preservação da Amazônia.

“Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário Então eu quero viver.”


Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia.
Chico Mendes em entrevista 1988.

Dorothy Stang

Sobre a Irmã Dorothy

Dorothy Mae Stang, conhecida como Irmã Dorothy foi uma freira norte-americana naturalizada brasileira.

Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart (1751-1816) e Françoise Blin de Bourdon (1756-1838). Esta congregação católica internacional reúne mais de duas mil mulheres que realizam trabalho pastoral nos cinco continentes.

Ingressou na vida religiosa 1948, emitiu seus votos perpétuos – pobreza, castidade e obediência – em 1956. De 1951 a 1966 foi professora em escolas da congregação: St. Victor School (Calumet City, Illinois), St. Alexander School (Villa Park, Illinois) e Most Holy Trinity School (Phoenix, Arizona).

Em 1966 iniciou seu ministério no Brasil, na cidade de Coroatá, no Estado do Maranhão. Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de setenta junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da Transamazônia. Seu trabalho focava-se também na minimização dos conflitos fundiários na região. Atuou ativamente nos movimentos sociais no Pará.

A sua participação em projetos de desenvolvimento sustentável ultrapassou as fronteiras da pequena Vila de Sucupira, no município de Anapu, no Estado do Pará, a 500 quilômetros de Belém do Pará, ganhando reconhecimento nacional e internacional.

A religiosa participava da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde a sua fundação e acompanhou com determinação e solidariedade a vida e a luta dos trabalhadores do campo, sobretudo na região da Transamazônica, no Pará. Defensora de uma reforma agrária justa e conseqüente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica.

Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu. Era a Escola Brasil Grande.

Irmã Dorothy recebeu diversas ameaças de morte, sem deixar intimidar-se. Pouco antes de ser assassinada declarou: "Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar".

Ainda em 2004 recebeu premiação da Ordem dos Advogados do Brasil (seção Pará) pela sua luta em defesa dos direitos humanos.

Falecimento
A Irmã Dorothy Stang foi assassinada, com sete tiros, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará, Brasil.

Segundo uma testemunha, antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava armada, Ir. Dorothy afirmou "eis a minha arma!" e mostrou a Bíblia Sagrada. Leu ainda alguns trechos das Sagradas Escrituras para aquele que logo em seguida lhe balearia.

No cenário dos conflitos agrários no Brasil, seu nome associa-se aos de tantos outros homens, mulheres e crianças que morreram e ainda morrem sem ter seus direitos respeitados.

O corpo da missionária está enterrado em Anapu, Pará, Brasil, onde recebeu e recebe as homenagens de tantos que nela reconhecem as virtudes heróicas da matrona cristã.

Martin Luther King

"Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele." Este é um trecho do famoso discurso de Martin Luther King em Washington, capital dos Estados Unidos, proferido no dia de 28 de agosto de 1963, numa manifestação que reuniu milhares de pessoas pelo fim do preconceito e da discriminação racial.

Martin Luther King Jr. era filho e neto de pastores protestantes batistas. Fez seus primeiros estudos em escolas públicas segregadas e graduou-se no prestigioso Morehouse College, em 1948.

Formou-se em teologia pelo Seminário Teológico Crozer e, em 1955, concluiu o doutorado em filosofia pela Universidade de Boston. Lá conheceu sua futura esposa, Coretta Scott, com quem teve quatro filhos.

Em 1954 Martin Luther King iniciou suas atividades como pastor em Montgomery, capital do estado do Alabama. Envolvendo-se no incidente em queRosa Parks se recusou a ceder seu lugar para um branco num ônibus, King liderou um forte boicote contra a segregação racial. O movimento durou quase um ano, King chegou a ser preso, mas ao final a Suprema Corte decidiu pelo fim da segregação racial nos transportes públicos.

Em 1957 tornou-se presidente da Conferência da Liderança Cristã do Sul, intensificando sua atuação como defensor dos direitos civis por vias pacíficas, tendo como referência o líder indiano Mahatma Ghandi.

Em 1959, King voltou para Atlanta para se tornar vice-pastor na igreja de seu pai. Nos anos seguintes participou de inúmeros protestos, marchas e passeatas, sempre lutando pelas liberdades civis dos negros.

Os eventos mais importantes aconteceram nas cidades de Birmingham, no Alabama, St. Augustine, na Flórida, e Selma, também no Alabama. Luther King foi preso e torturado diversas vezes, e sua casa chegou a ser atacada por bombas.

Em 1963 Martin Luther King conseguiu que mais de 200.000 pessoas marchassem pelo fim da segregação racial em Washington. Nesta ocasião proferiu seu discurso mais conhecido, "Eu Tenho um Sonho". Dessas manifestações nasceram a lei dos Direitos Civis, de 1964, e a lei dos Direitos de Voto, de 1965.

Em 1964, Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz. No início de 1967, King uniu-se aos movimentos contra a Guerra do Vietnã. Em abril de 1968, foi assassinado a tiros por um opositor, num hotel na cidade de Memphis, onde estava em apoio a uma greve de coletores de lixo.

Martin Luther King - Frases

  • O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.
  • A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.
  • Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados
    por sua personalidade, não pela cor de sua pele.
  • O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.
  • É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
    É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
    Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
    Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver
  • Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.
  • Nós não somos o que gostaríamos de ser.
    Nós não somos o que ainda iremos ser.
    Mas, graças a Deus,
    Não somos mais quem nós éramos.
  • Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira.O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.
  • O que vale não é o quanto se vive...mas como se vive..
  • Suba o Primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas de o primeiro passo.
  • Saiba que seu destino é traçado pelos seus próprios pensamentos, e não por alguma força que venha de fora. O seu pensamento é a planta concebida por um arquiteto para construir um edifício denominado prosperidade. Você deve tornar o seu pensamento mais elevado, mais belo e mais próspero
  • A covardia coloca a questão: 'É seguro?'
    O comodismo coloca a questão: 'É popular?'
    A etiqueta coloca a questão: 'é elegante?'
    Mas a consciência coloca a questão, 'É correto?'
    E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.
  • Quando os nossos dias se tornarem obscurecidos por nuvens negras e baixas, quando as nossas noites forem mais negras do que mil noites. Lembremo-nos, que no universo a um grande e benigno poder , que e capaz de abrir caminho onde não há caminho, e de transformar o ontem sombrio num luminoso amanhã
  • Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização.
  • Cada dia é o dia do julgamento, e nós, com nossos atos e nossas palavras, com nosso silêncio e nossa voz, vamos escrevendo continuamente o livro da vida. A luz veio ao mundo e cada um de nós deve decidir se quer caminhar na luz do altruísmo construtivo ou nas trevas do egoísmo. Portanto, a mais urgente pergunta a ser feita nesta vida é: \'O que fiz hoje pelos outros?
  • Eu tive muitas coisas que guardei em minhas mãos, e as perdi. Mas tudo o que eu guardei nas mãos de Deus, eu ainda possuo
  • O comunismo existe hoje por que o cristianismo não está sendo suficientemente cristão.


Henri Le Boursicaud




Henri Marie Le Boursicaud nasceu a 23 de Agosto de 1920 em Bézidalan,uma aldeia de 5 casas da comuna de Elven, na Bretanha, em França, numa família de pequenos agricultores.
A mãe, Marie-Anne d'Ars, bretã de coração e alma, era extremamente tradicional e alérgica a qualquer mudança.
O pai, Jean Le Boursicaud, era apologista do progresso e partilhava alguns trabalhos domésticos, o que era uma revolução naquele tempo.
Viveu com os seus quatro irmãos Emmanuel, Aimé, Jean e Thérése num ambiente familiar caloroso. A casa era um espaço de liberdade e viviam em atmosfera de segurança.
No casal, as tensões de tradicionalismo e modernidade, por vezes pesadas, eram a manifestação de uma vida intensa, de um amor indissolúvel. A vida deles afirmou-se também pela longevidade, ele com 93 anos e ela com 83.
Com 11 anos Henri entra no Seminário e aos 26 foi ordenado padre na Congregação dos Missionários Redentoristas.
Se estes poucos dados biográficos terão alguma importância na construção do seu carácter, o percurso de acção até aos seus 45 anos levam-no a alterações profundas na opção perante o mundo.
Com 45 anos torna-se padre operário, contrariando já nessa altura as orientações de Roma.
Aprende a profissão de carpinteiro e passa a viver com os portugueses emigrantes na zona leste de Paris, em Champigny .
Pobre entre os mais pobres, como o Carpinteiro de Nazaré, por eles luta, com eles sonha. E sonha porque não acredita em fatalismos. "A miséria não é uma fatalidade".
Aos quarenta anos os seus amigos apelidavam-no de "buldozer", aos 50 de "profeta". Redentorista, companheiro de Emaús, hoje sente-se reconhecido como simples "semeador" da palavra de Deus, "semeador" da Esperança.

O movimento Emaús começou, no Ceará, com doação simbólica do padre Henri, fundador do Emaús Liberté, na França. Após 16 anos de recuperação de usados em oficinas profissionalizantes, vendidos a preços populares, mantém o propósito de ajudar a quem mais precisa

Quando o senhor criou o movimento Emaús Liberté?Em 1972, fundei o Emaús Liberté, na França, com um amigo chamado João, porque nunca se funda um movimento sozinho. O movimento tem duas finalidades. Aliviar o sofrimento depressa e lutar contra as causas da miséria. Hoje, o Emaús está presente em 48 países. Ele está em países onde existem pobres e a pobreza existe em todos os lugares do mundo. Os pobres cada vez mais se multiplicam.

Como o senhor analisa a miséria em pleno século XXI?O mundo sempre viveu movido por duas correntes: poder e dinheiro; amor e justiça. A guerra entre os países acabou. O que vai existir é cada vez mais guerra entre ricos e pobres. Hoje, observo que os pobres não estão mais pisados, estão prontos para a luta, sendo muito importante a informação. Os pobres estão abrindo os olhos e a Internet abre um mundo de informações.

O senhor poderia contar um pouco da história de criação do Emaús Internacional?O Abbé Pierre fundou o movimento Emaús, em 1949, na França. O encontrei, pela primeira vez, em 1954. Chegou à Bretanha, na França para falar com o povo e aos jornalistas. Apertei sua mão e foi a semente. O tempo passou e, em 1972, estava na rua quando o encontrei novamente. Abbé Pierre, burguês, da família mais alta da França e do mundo talvez (ri), julgava que os pobres são boa gente, que era preciso compaixão, mas cuidado, pois eram ladrões, não por culpa deles, por isso era preciso ter cuidado. Assim, não podia me aproximar deles. Observei que tinha um caderno na comunidade no qual estava escrito o nome dos novos companheiros. E, cada semana, a polícia chegava para olhar o caderno e apanhar um ou outro para colocar na cadeia. Quando vi aquilo, disse, não, nunca vou colaborar dessa maneira. Quando cheguei à capela, não desejava mais fundar a comunidade. Estava arrependido. Disse que era muito pequeno, portanto, não era possível.

Como chegou ao Brasil?Cheguei ao Brasil em 1986. Depois de anos, a comunidade na França podia continuar sem a minha presença. Graças a um amigo, fui a Portugal conhecer o movimento Emaús. Falei em 300 lugares diferentes do movimento. Num domingo à tarde, falei para apenas seis pessoas. No fim do encontro, uma senhora se levantou e disse que não era portuguesa, mas brasileira e que, depois de Portugal, eu iria à sua terra para fazer o mesmo que estava fazendo na Europa. E pagou o bilhete do avião. Quando cheguei a São Paulo, fui recebido no convento dos Redentoristas e disse: aqui não é o meu lugar. Mas como fazer? Fui viver no meio de catadores de papelão, no Centro de São Paulo. Trabalhei como catador. Fui, depois, para Campo Grande, onde vivi seis meses com os pobres e trabalhei com eles. Fui bem recebido na casa de um padre, mas disse que não era o meu lugar e fui viver na favela com três seminaristas.

Qual foi a sua próxima parada?Cheguei, depois, a Crateús, onde encontrei dom Fragoso, um bispo forte, corajoso, amigo dos pobres. Como não tinha mais dinheiro, vim para Fortaleza. Fui a quatro bancos para trocar dinheiro. No quinto banco, o funcionário disse que não havia trocado ainda. Olhei um poema que estava sobre sua mesa e disse que era bonito mas faltava uma palavra. Estava escrito amor, mas faltava a palavra justiça. Ele me levou até a Sé e conheci Airton Barreto, numa barraca trabalhando. Passei dois meses na casinha da praia, no Pirambu. Após seis anos, voltei para fundar o movimento Emaús do Pirambu. A estrada estava pronta porque não se funda o Emaús sozinho, o José (Airton Barreto) tinha muitos amigos pobres.

O Emaús tem missão específica?O Emaús tem dois braços e duas mãos. A primeira é para aliviar o sofrimento dos pobres imediatamente. Por isso é preciso acolher, trabalhar e partilhar com eles. A segunda, a luta, que é feita pela comunidade. Os companheiros perto da comunidade, um grupo de amigos, homens fortes e ricos, mas que têm coração para organizar, são a outra mão do movimento. Isto é, a luta contra as causas da miséria. Através da política, dos jornais e todos os meios.

Na sua opinião, quais são as causas da miséria?O poder e o dinheiro.
Elas devem ser combatidas e não aliviadas...
Aliviar depressa, mas não basta. Porque aliviar o sofrimento sem lutar contra as causas é desonesto. Ataco todas as organizações que fazem bem aos pobres, mas que não gostam de buscar as raízes da miséria.

Como o Emaús se mantém?Mediante acolhimento e partilha. Pode ser qualquer trabalho: no campo, nas fábricas.

Qual a impressão do movimento do Emaús Vila Velha, localizado numa região de mangue?Não é impressão. Vi os porcos no seminário dos Capuchinhos, em Guaramiranga, e percebi que vivem em melhor condição do que os pobres do Vila Velha.

O senhor questiona a estrutura da Igreja. Qual o futuro dela?A Igreja, fundada há dois mil anos, é uma semente que o profeta de Nazaré deitou no mundo, servindo para provar que vem de Deus. Nasceu no tempo agrário e estamos na era nuclear. Qual será a sua organização? A organização hierarquizada vai acabar. Vai ser uma grande comunidade de comunidades. Aqui estou fazendo amizade com os protestantes. Estou pensando no futuro. Por isso não odeio os protestantes, prefiro compreender como uma comunidade próxima da outra e não como pessoas fora da verdadeira Igreja.

Essa aproximação é recente?Quando fui missionário na França, com 30 anos (risos), fiquei numa região onde havia muitos protestantes. Naquele tempo, era pecado venial falar com protestantes. Cometi muitos pecados veniais.

O senhor acha que o mundo caminha para o ecumenismo?O Vaticano não pode se transformar assim. Não sei como, mas o templo de Jerusalém vai cair.

Como o senhor analisa o quadro de desigualdade social mundo afora e, em especial, no Brasil?Essa é a realidade do mundo inteiro. Porque a guerra de um país contra outro não vai existir mais. As guerras do presente e do futuro serão em cada país, entre os ricos e os pobres.

Como trabalhar ética, solidariedade e partilha numa sociedade marcada pelo excesso?É possível porque a liberdade existe.

Qual o papel da juventude na transformação da realidade?
Está na raiz da infância. Cito dois exemplos: quando tinha seis anos, minha mãe me pediu para levar uma cesta para uma senhora, distante dois quilômetros. Depois de 200 metros, levantei a tampa do cesto preto, cuja imagem carrego durante 74 anos, e havia pão e carne. Fechei o cesto e levei à senhora. Quando conto a história para as crianças, elas respondem: "você comeu tudo" e digo que não. Recentemente, vi uma senhora que falava com o seu filho, da mesma minha idade sobre um bolo que ele tinha ganho. Ela perguntou se ele havia dado um pedaço para alguém, ele disse que não tinha dado nenhum um pedaço e a mãe não recriminou. Dois caminhos, um da partilha e o outro, não. Eu aprendi com minha mãe o da partilha.

O que o senhor acha dos programas de renda mínima, como o Bolsa Família?
É uma coisa boa, mas se é uma maneira de esconder a pobreza ou explorar a pobreza, é feio. É hipocrisia a denunciar.

FIQUE POR DENTRO 
Movimento Emaús em Fortaleza
Existem dois Emaús em Fortaleza: o Movimento Emaús Amor e Justiça, no Pirambu; e o Vila Velha. O primeiro tem 16 anos e o da Vila Velha, três. Começou com uma doação do padre Henri, de US$ 18,00. No Ceará, o movimento vive de doações de usados, que são recuperados em oficinas profissionalizantes. Pode ser roupa, material eletroeletrônico, calçados, brinquedo. O material é arrecadado por meio contato telefônico: (85) 3282.1382. Após a recuperação, os objetos são vendidos à comunidade no Bazar Emaús, por preços populares. O dinheiro tem três destinos: dar dignidade aos companheiros; trabalhos sociais com os mais pobres; e apoiar o nascimento de outros Emaús, como ocorreu com o Vila Velha



Entrevista realizada em 4/10/2009
IRACEMA SALES

REPÓRTER


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=677027

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