Abbe Pierre o amigo dos últimos


Dia 5 de Agosto de 1912, nasceu em Lyon (França) Henry Grouès. Os Grouès eram uma família burguesa, crente e empenhada em iniciativas de solidariedade a favor dos pobres da sua cidade. O pequeno Grouès cresceu, por isso, num ambiente marcado pela dedicação ao próximo. E tal experiência ajudou-o a descobrir a sua vocação.

Já na sua infância, Henry confidenciará ao pai o desejo de ser missionário. O seu temperamento é forte, determinado e irrequieto. E o primeiro encontro com a vida religiosa, feito como estudante no colégio dos jesuítas, não o satisfez. Henry entrará na adolescência acompanhado de uma inquietação interior: que valores deverão orientar a sua existência?
Aos 13 anos, durante um encontro em Assis, a figura de S. Francisco inspirou-lhe um caminho atraente. Foi uma autêntica reviravolta na sua vida. O testemunho do “pobre” de Assis torna-se, para ele, uma exigência de um empenho concreto.
Aos 19 anos, o jovem Grouès comunica ao pai que deseja ingressar na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos. A notícia é acolhida sem entusiasmo.
O primeiro impacte com a vida monástica não é dos melhores. Sentiu que a formação que recebia não o encorajava e que o estilo de vida era muito conservador. Ao mesmo tempo, a sua saúde deteriorava-se. Por isso, depois da sua ordenação sacerdotal, em Agosto de 1939, foi aconselhado a deixar o mosteiro e a ajudar os párocos na diocese de Grenoble.
Rebenta a II Guerra Mundial. Os franceses assistem impotentes à deportação dos judeus para os campos de concentração alemães. Henry Grouès ingressa na Resistência Francesa e passa a chamar-se Abbé Pierre, o nome no código interno do movimento. Em 1942, a tragédia do genocídio judeu bate-lhe à porta: duas judias que fogem da Gestapo, pedem-lhe refúgio e protecção. E, desde então, Abbé Pierre só pensa em salvar vidas humanas. Conhecedor dos caminhos da montanha, põe a salvo muitos homens e mulheres que, de outro modo, seriam conduzidos para a morte.
A sua acção não passa desapercebida. Também ele é perseguido pelos alemães. Sempre em segredo, prossegue as suas acções em França, Espanha e Argélia.
Em 1945 lança-se numa aventura política. É eleito deputado e, durante seis anos, tenta humanizar a política com os valores evangélicos. Todavia, os seus esforços são inúteis.
Abandonada a política, restaura um velho edifício na periferia de Paris e destina-o ao acolhimento de jovens de todas as nações que quisessem viver e trabalhar em conjunto. O primeiro grupo que constitui com esta finalidade toma o nome de Emaús. Para financiar a obra, Abbé Pierre não hesita em tornar-se mendigo. Desta inspiração nasce a actividade principal do Movimento Emaús: recolher o que os outros deitam fora para revendê-lo e dar um pouco de bem-estar aos que não têm nada.
Os princípios foram dolorosos. Mas a ajuda económica, os voluntários, a difusão da mensagem de “Emaús” cresceram. Os políticos viram-se obrigados a tomar medidas. O Movimento ganhava representatividade pública.
Hoje existem cerca de 350 comunidades e grupos Emaús, e estão presentes em 32 países. Em Portugal há comunidades no Porto, em Setúbal e Caneças.



Companheiros de Emaús

Abbé Pierre, como fundador, ditou três princípios para orientar o movimento:
Trabalho: “Não aceitaremos, até que nos faltem as forças, que a nossa subsistência dependa de algo que não seja o nosso trabalho”.
Comunidade: “O trabalho é um serviço de todos. Nenhum de nós poderá ser considerado a partir de outra coisa que não seja a sua dignidade humana, seja qual for o seu passado, a sua origem e as suas opiniões”.
Serviço: A finalidade do nosso trabalho é socorrer todo e cada um daqueles que estiverem em perigo, especialmente os sem-abrigo, e servir a verdadeira paz”.

Fonte: Timoneiros da História / Janeiro de 1999

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